terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Te amando devagar e urgentemente


Estávamos sob uma árvore infrutífera,naquela tarde de outubro e eu via os raios de sol penetrarem de forma leve dentre os galhos da árvore seca, que servia apenas para não termos um contato tão direto com o astro rei. Você trouxe maçã e diversos quitutes na sua cesta de piquenique, e eu te observava,graciosa, a estender a toalha sobre o gramado verde e a organizar item por item em cima de nossa mesa mal arrumada e talvez um pouco rústica demais. 
A notei pela primeira vez naquela tarde de outubro. Teus cabelos dourados e cacheados nas pontas caiam leves sobre os ombros teus, e o vestido rosado parecia de forma despretenciosa fazer um par divino com as tuas bochechas rosadas pelo sol. Você me sorriu um pouco cabreira, se perguntando o que é que eu estava observando com tanta atenção, ou então do que é que eu estava rindo,pois meu sorriso maior que a boca não podia disfarçar qual não era a minha satisfação por tê-la ali comigo. 
A verdade é que nenhuma história de amor bonita diz os problemas que temos que enfrentar dentro de nós mesmos para que consigamos nos entregar de novo a uma história qualquer, pois qualquer novo 'eu te amo' é um espaço a mais que abrimos em nosso coração para o outro ferí-lo. E olhando para teu sorriso e teus olhos verdes que eu simplesmente não conseguia parar de olhar,não poderia pensar que algum dia você poderia me fazer algum mal. Porque quando eu olhava dentro dos seus olhos meio verdes, meio mel (que eu ainda não sabia qual era a cor, assim como não sabia a cor da tua alma) eu conseguia ver toda a doçura que você teimava em esconder.
E ficava encantado com a forma que você ria e umedecia os lábios para contar mais uma de suas histórias fictícias ou não. Com você eu nunca sabia o que era verdade ou mentira. E isso abria o meu apetite de uma forma a querer desvendar mais e mais de você. 
É difícil para mim imaginar que,um dia, você consiga me ferir. Era difícil demais. De uma forma estranha e um pouco obsessiva ninguém conseguiu sair da minha vida. Eu me sentia uma casa mal assombrada, que apesar de ter pessoas mortas ali,ainda as mantinha em cativeiro e apesar do cheiro de putrefação entrar-me narinas adentro e queimar, eu ainda mantinha-os ali por motivos que ainda não ficam muito claros. Não sei perder ninguém.Não sei tirar pessoas da minha vida como que em um jogo, todos fazem parte da minha vida por mais que não notem. 
Olhando-a com atenção pensei que você fez com que eu limpasse a minha casa. Você fez com que eu ajeitasse as coisas dentro de mim , como que para ficasse à sua altura o lugar. Eu abri as janelas, pintei as paredes para tudo ficar mais claro, e perfumei a casa com lavanda. Só para quando fechasse seus olhos, inalasse o perfume e sorrisse para mim. Só para eu ver nos seus olhos aquele prisma de cores que eu tanto admirava e tentava decifrar. 
O mel dos seus olhos me queimava. 
E por mais que eu tivesse aquela mania horrível de começar as coisas já pensando no seu fim, eu queria que você ficasse um pouco mais. Você se sentou no meu peito, e eu senti o cheiro dos seus cabelos, e fechei os olhos. Por um momento quis que fosse eterno tudo,ali. Com você, sem querer ser clichê, eu encontrava o estado de paz que eu não conseguia ter com os outros. E por mais que todos fizessem eu me sentir bem, eu ainda não descobri um lugar que poderia ser considerado tão 'meu' quanto que do seu lado, sendo seu também. 
Eu começava tudo pensando em o quanto as coisas são finitas. E entre suas armadilhas de sorrisos, cintura, pernas, pele, perfume...Eu já me encontrava preparado. Já sabia que você iria embora, e eu te guardaria no mesmo mausoléu que todos os outros que passaram e por aqui estiveram. Vou guardar a última lembrança que eu tive de cada um. A última palavra. E vai me doer. E vai ser um ritual difícil, dia após dia , superar sua falta. 
Mas a verdade é que agora que estava te dando espaço para fazer mais parte da minha vida e sentia a cada sorriso que ficaria mais difícil desprender-me de você assim. E eu , apesar de lidar tão bem com perdas -poderia fazer um livro de autoajuda se quisesse- você era a única coisa que me faria falta. Não digo sobre meus livros favoritos, meus textos antigos, meus chicletes em cima da escrivaninha, meus discos , minhas provas com nota boa...Nada disso me faria falta. 
O que me faria falta era se você fosse embora,a única que me amou tirando todas as máscaras. Você me amou sem que para isso tivesse que escrever algum texto bonito. Você me amou em uma tarde de outubro, quando a minha única preocupação era fazê-la sorrir e esquecer dos problemas junto com você. Você me amou quando eu levei as mãos ao rosto e solucei. Você me amou quando eu fui o homem e não o rapaz maravilhoso que te mandava aquelas cartas que te faziam sorrir por um dia inteiro. Você me amou.

4 comentários:

  1. Muito bom. Visite o Sentir as Letras - www.sentirasletras.pt

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  2. Cada texto seu teu um pedacinho de cada história que eu vivi (se não toda as histórias que vivi). Leio ao menos um texto por dia antes de dormir. Acalma a mente =)

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    1. Que bom que pensa assim, Bianca!É bem estranho falarmos sobre épocas tão ímpares de nossa vida e ao mesmo tempo tal pedacinho de nossa história ser um pedacinho dentre outras tantas!Muito obrigada pelo carinho,te peço que continue a me visitar sempre! Grande beijo

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