terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Casamento: O tabu do século XXI


Ao observar o que tantas mulheres desejam em um casamento,resolvi escrever-lhes abertamente sobre tal assunto. A palavra 'casamento' está entre as mais pronunciadas pelas mulheres ao longo dos tempos. Não é pouca coisa, afinal, a entrada de branco no altar ou então uma mera assinatura em um papel resolve algumas pendências sociais que toda mulher tem, é um atestado para o mundo de que é boa o suficiente para ser amada por alguém a ponto de esse alguém entregar-lhe o pouco - ou muito - tempo que falta de vida.
Mais do que uma dívida paga com a sociedade, algumas mulheres simplesmente enlouquecem com tantos preparativos, pois apesar da carteira de identidade dizer que são maiores de idade e senhoras de si, se vêem reféns de contos inofensivos como Cinderela,e querem um casamento digno de princesa. Nos casos mais graves, de rainha. É um sonho de infância sendo realizado em grande estilo. 
Eu sempre tive muitas expressões de reprovação quando dou minha opinião sobre casamentos. Me chamam de pessimista, amarga, mal amada dentre muitos outros adjetivos carinhosos. Não recrimino-os, afinal, fomos doutrinados para acreditarmos que a chave da felicidade é justamente 'o outro'. Não só propagandas de sites de relacionamentos quanto o marketing na televisão delimita bem quem é feliz e quem não é. Como uma mensagem subliminar "Se achou alguém bom para você,você é feliz. Caso não, a sua vida não presta."
Parece exagero, mas é exatamente assim que acontece. Quem é solteiro e feliz é visto como mentiroso, e quem está namorando e é infeliz provavelmente deve ter cometido algum erro com a pessoa amada. O que mais me aborrece é apostarem tanto na 'união', e tal 'união' ser tão egoísta. Dar-se ao outro tem muitos mais individualismo do que aparenta. Parece complicado,mas não é. 
Ao dar-se por completo em um relacionamento, primeiramente precisa dar-se por completo a si mesmo. Precisa ter-se acima de qualquer outra pessoa. Entender que a felicidade não é 'ter', é 'viver'. Não se tornarás mais feliz por ter alguém com quem dividir as mágoas, se nas horas das alegrias queres vivê-las todas sozinho. 
A igreja badala os sinos. O doce 'blém blém' anuncia a entrada de mais uma mulher que ao entrar na igreja será o centro das atenções. Ela não se importa. Está levemente maquiada,mas nada pesado. Não gostava da sensação de ter uma máscara no rosto. Queria casar-se o mais livre possível de máscaras. Tanto estéticas quanto na alma. O sorriso não cabia nela, mas sentia que o canto da boca tremia de nervoso e ansiedade. Parece que era um evento na cidade, estavam todos ali. Amigas, pais , parentes,vizinhos. A vida dela estava ali, e ao passar pela igreja foi lembrando aos poucos do porquê cada um estava ali. Estava passando pela vida dela, como quem passa em um túnel. Todos a olhavam deslumbrados.Não só pela beleza dela que era inegável, mas pela leveza com que caminhava. Uma das vizinhas maldizia baixinho para a vizinha de banco 'ela está caminhando como quem vai comprar pão!'
Ela ouviu. E continuou sorrindo. 
Ali, no altar, estava um homem. Não muito alto, nem muito baixo. Não muito magro, nem muito gordo. Um homem normal. Era só para ele que ela conseguia olhar, e ao ver o 'túnel/corredor' da vida dela (ironicamente, um caminho de flores do campo), ela via que sua vida não fora de todo ruim. Os anjos nunca a abandonaram. Havia momentos de intensa euforia, e momentos de depressão. 
Ela não conseguia raciocinar muito bem, estava boba com o que estava prestes a fazer. Dizer 'sim' na frente de todos. Dizer que 'sim', ela aceita ser daquele mesmo homem pelo resto da vida. Logo ela, que sempre achou isso tudo tão clichê, armado e cafona. Para ela, era bem simples. Ela aceitava o fato de que não havia nascido para casar, e queria que seus namorados lidassem bem. Desde muito criança, ela dizia isso. Não queria 'entregar' a vida dela nas mãos de outra pessoa. Ela queria viver independente, queria ser 'dona do próprio nariz'. 
Ela conheceu aquele cara aparentemente normal, mas com uma alma anormal. Ele a fez mergulhar nos abismos mais profundos dela mesma para entender que o que ela queria era ser generosa o suficiente para ficar com alguém. Isso ia contra os princípios dela. Não queria ficar subjugada a um homem, dependente, anulada. Era essa a imagem que ela tinha de um casamento. Aos poucos ele mostrou a ela, que sem querer ela já estava casada. Parece idiota falar-lhe isso, caro leitor. Mas a verdade é essa. Já se casou diversas vezes antes de entrar em uma igreja. Você já disse 'sim' sem nem ao menos perceber. Você disse 'sim' quando deixou de ficar com aquele rapaz super boa gente que queria te conhecer melhor no bar porque não deixava de pensar nele. Você disse 'sim' quando ele foi até a sua casa pela primeira vez, e vocês brincaram, e se divertiram como duas crianças. Um lavando a louça e o outro perturbando. Você disse 'sim' quando aceitou conhecer alguém e pela milésima vez acreditou ter encontrado o amor. Você disse 'sim' quando o abraçou e não queria nada mais. 
Ela finalmente entendeu, aquela menina ainda, que caminhava aos saltos a caminho do altar que casamento não é uma 'instituição falida' como dizia Machado de Assis. Perdão,Machado. Mas casamento é apenas o atestado que a sociedade quer de um amor. Apenas para dizer 'agora vocês podem se amar livremente perante a lei'. Porque não ia mudar muita coisa. Eram amigos. Brincavam do que discutiam, e conseguiam rir mais do que ficavam sérios. Era apenas o melhor amigo dela ali, esperando aquela cerimônia chata acabar para saírem para algum lugar tomar milkshake e rir do vestido de uma das madrinhas. 
Ela finalmente entendeu que casamento é apenas uma exigência feita pela sociedade. Que dentro do coração dela nada precisava mudar. Nada mudaria, então. Ela continuaria olhando para ele com o mesmo amor e carinho de sempre. Ela iria alugar um filme no final de semana para verem juntos. Encheria a geladeira de comidas congeladas. Colaria recados na geladeira. Ela finalmente entendeu que é preciso muita independência dentro de si para querer unir-se a alguém. Que aceitar estar com o outro é a mais autêntica forma de demonstrar que não se depende de ninguém. Que tudo 'está' , nada 'é'. 

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