sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"Dentre tantos chicos, Chico disse"

Filho de ninguém. 
Chico tem mania de contar as estrelas no céu. Toda noite , ele tenta , inutilmente , contar quantas estrelas tem no céu. Pensa em como é engraçado o fato de nunca ter conseguido contar todas , “ o mundo é tão grande!” pensava baixinho e risonho. Ria para disfarçar o ronco da barriga , e quando , raramente , uma lágrima brotava-lhe denunciando a tristeza que tinha esculpida no rosto , dava um sorriso. Acordava cedo todo dia , com ar de quem pouco sabia , mas que parecia ter o mundo. Sonhava alto. Quem sabe um dia aquilo passaria. Passará.
Passava pela zona sul , na hora de trabalhar , trem cheio ,já tá em tempo de se conformar ( acomodar?).
Passou pela cidade maravilhosa cedinho , antes mesmo da própria cidade acordar. Viu as prostitutas , os drogados , os marginais. Pensou também nas princesinhas , que estavam dormindo até agora , para levantar mais tarde , e reclamar que o namorado não ligara para desejar boa noite como de costume. Pensou em que incrível , o fato de que , cada pessoa daquele trem tinha uma história pra contar. Alguma vez , algo já deve ter feito-lhes chorar. Será?
Chico tem vontade de chamar toda gente , pra cantar alegremente , uma canção que fale de gente pra gente. Sem esse ‘blábláblá’ que a televisão inventou , para dizer-nos o que comprar , ou do que gostar. Chico quer provar , que há mais no mundo , que a vista há de alcançar. Enquanto reclamamos sobre o trânsito , tem alguém sofrendo , sentindo dor. Enquanto reclamamos que a comida está insossa , tem alguém revirando lixo para comer. E eu penso que Chico está certo. Falta alguma coisa de gente pra gente. Que realmente toque no coração , e faça escorrer da alma. Desse lugar que o homem esqueceu faz tempo , viu?
Chico conheceu um moço , na estação , anos atrás. Nunca mais se esqueceu. Tinha nenhum dente na boca. E o que lhe faltava de dentes , sobrava-lhe de brilho nos olhos. Mas o homem sabia realmente como viver. Cantava antigos sambas , murmurava canções...Tinha o rosto maltratado pela crueldade do tempo. E a alma calejada. Mas o moço, sabido bradava: - “ O trabalho é pesado mas a vitória é certa.”
Guardou aquelas palavras em um lugar tão especial no coração , que fez questão de lembra-la sempre. Um homem simples , sujo até. Dizendo o segredo da vida bem ali , e ninguém parando para entender. Ou até mesmo escutar. Talvez se ele tivesse de terno e gravata e um bonito sapato. Chico não entendia porque o bicho homem vivia tanto de aparências. Chico queria entender. Sinceramente , ele queria. Entender um dia , talvez , essa tragédia que era viver, essa tragédia.

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