domingo, 6 de janeiro de 2013

Sobre filmes e amor


Conversando com uma amiga minha à noite , em um daqueles dias em que nos livramos do papel de adolescentes e encarnamos mulheres maduras conversando sobre planos para o futuro e preocupadas com 'o que virá', ela me contou como gostaria que a vida dela fosse no futuro, e eu acompanhando toda a discussão com a atenção de uma criança que descobre algo novo sobre o mundo , e comendo alguns chocolates sorri para ela com sinceridade.Mas ela , tão cansada de ter suas fantasias juvenis sendo desmascaradas pela sociedade impiedosa me deu um sorriso impotente e um suspiro.Perguntei o que havia acontecido, e ela me respondeu 'parece até um filme , mas sei lá , queria que fosse assim'. E eu a respondi prontamente , enquanto pegava mais um chocolate para adoçar a boca - e a vida. "Ora , quem não queria que a vida fosse como em um filme?" Ela sorriu e concordou. Depois o assunto foi outro , e voltamos ao nosso papel de adolescentes famintas pelo mundo e nem um pouco preocupadas com o fardo de se tornar adulto muito em breve. Mas o assunto sobre o filme não me saiu da mente nem por um minuto. 
Acho que todos nós gostaríamos que nossa vida fosse como em um filme, e que , quando vez ou outra nos vemos decepcionados ou impotentes por causa de alguma situação é muito normal percebermos essa vontade um pouco mais aguda e efusiva em nosso coração cheio de graves. Quem não quer um cara indo correr atrás de nós em qualquer lugar do mundo? Quem não quer alguma loucura de amor? Quem não quer ir pegar um avião para ir embora e ver que o cara está lá?Quem não quer encontrar um cara especial , que nos mande flores depois de um dia exaustivo de trabalho ou estudo? Quem não quer um lunático que suba em cima de uma mesa de lanchonete e grite ao mundo 'eu te amo'?Quem não quer aquele rapaz galanteador de filmes antigos , que encosta na sua mão e te dá uma rosa apenas para brindar a sua beleza? Quem não quer ser a mocinha linda , que mesmo chorando horrores continua linda? Quem não quer ter uma família perfeita , que toma café da manhã rindo e conversando sobre o quanto se amam? Quem não quer ter uma escola em que têm as melhores festas?Quem não quer ser a mocinha excluída que no fim desperta o amor do rapaz mais bonito e popular? 
Pensando bem os filmes foram criados no intuito de nos divertir, nos informar e nos tornar mais cultos.Claro. Mas de uma forma maluca também nos faz entrar em desarmonia com a realidade que nos cerca , e nos fazer sempre insatisfeitos com o que temos ou sentimos ou somos ou queremos ser. É uma complexidade tão grande isso de 'ser/querer/parecer' que levei algumas noites em claro para pensar mais sobre isso. O mundo , as tradições , a vida nos faz matar toda ideia genuinamente criativa que temos para essa vida. Qual era seu sonho antes de crescer e se tornar um adulto chato? Ser astronauta? Jogador de futebol? Viajar o mundo inteiro? E desde quando , 'não sei porque mudei de ideia' , ' a vida me levou a um caminho diferente' é desculpa para não realizar os sonhos genuínos que sempre tivemos? Em que momento da nossa vida exatamente nos cortam as asas da imaginação e nos ensinam que 'tal coisa é fantasia , tal coisa é realidade'. Para mim fantasia e realidade se misturam em uma dança esquisita , que não se têm idade para viver um amor de filme , e que também não se tem idade para sair correndo atrás de quem você ama debaixo de chuva ou em um aeroporto. Porque os filmes , apesar de carregados nos efeitos especiais e 'cenas de câmera lenta com música ao fundo' , nos mostram que correr atrás dos sonhos é o que faz o final ser feliz. Aliás , outra mentira que inventaram , como é que pode ser feliz se é um final? Só é final quando morremos , certo? Aposto que a cinderela ainda se indispôs muito com o príncipe encantado dela , mas que no final riu de tudo , e chorou também. Porque não sei vocês mas depois daquela noite conversando com a minha amiga e pensando na descrença dela em que a vida dela fosse como um filme , me levou a crer que somos muito desacreditados das coisas. Desde quando virou pecado se apaixonar pela fantasia , e ter amor pelo que é - na cabeça dos ignorantes - irreal? Não sei , mas eu quero que a minha vida seja como um filme. Mas sem nenhum modelo pré-estabelecido. Não quero ser a mocinha que sempre si , não quero ser a vilã , sempre cruel , tampouco a romântica que ama e se decepciona com a mesma frequência que respira. Quero ser a menina que cria o próprio filme com as asas da imaginação que tentaram roubar-me quando eu era criança e não conseguiram,quero criar meu próprio roteiro,filmar,editar,pausar os momentos importantes,deletar os desnecessários,colocar música romântica quando for atrás de alguém em algum lugar para pedir 'por favor , não  vai embora' , quero os aplausos da plateia quando eu gritar para o mundo 'eu te amo' para alguém. E ainda assim , é um prazer pensar que não tem gênero. O gênero é ainda desconhecido pois não se vira nada igual a isso anteriormente , são todos os gêneros juntos , e ainda assim nenhum deles predominante. Uma mistura interessante , e ainda assim intrigante. Só sei que quando meu filme estiver pronto , quero estar em uma sala de cinema, grande e confortável assistindo à história da minha vida , e rindo e sentindo tudo aquilo de novo , mas com a certeza de que eu fiz tudo aquilo valer a pena , cada segundo , ou aquela vida inteira. 

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