quarta-feira, 4 de março de 2015

Eu sou dessas, daquelas e de outras

    Eu não sei em que momento eu decidi me autoentitular uma feminista. Sempre achei que as mulheres deveriam ser donas dos próprios narizes, pois foi assim que me foi ensinado. Por ora. Depois, fui crescendo, e o meu pai, meio conservador e tentando ser liberal, disse que o certo é a moça casar virgem. Isso me pegou desprevinida e eu comecei a pensar sobre o assunto. Ele nunca foi de falar sobre sexo tão abertamente, e na sentença que ele disse, não vejo ele falando nada explicitamente ou me explicando. Eu vi praticamente uma ordem implícita.
    Parei para pensar e percebi que o fato de eu pensar diferente era um problema. A maneira como eu me achava certa também. Eu queria ser independente, mas a educação um pouco conservadora me fez pensar que ser independente era só poder pagar minhas contas. Entretanto, vai muito além disso. Ser independente é fazer o que quiser e não precisar dar satisfação nenhuma a ninguém. Uma vez eu ouvi um moço conversando com a filha na fila de um banco, e ele dizia para ela que não dá para viver a seu próprio modo pois vivemos numa sociedade e devemos agir de acordo com o que nos é proposto.
    Ouvindo assim parece um absurdo, uma idiotice. Porém, eu  peço a reflexão principalmente das minhas leitoras. Quantas vezes nos foi determinado agir de certa maneira?" Case-se virgem!""Estude muito mas não vire uma solteirona!". Eu tive uma professora excelente no ensino médio que também me fez repensar sobre certas "coisas" que nos eram impostas. Ela disse que trabalhou por muito tempo enquanto estava grávida e só parou quando não deu mais. Fiquei pensando sobre aquela atitude dela e perguntei, inocentemente "Mas o seu marido deixou?Não disse nada?", e ela respondeu-me na lata "Ele não tem que deixar nada".
    Essa frase nunca mais saiu da minha cabeça, e acho que ali foi um dos momentos importantes para me livrar de todas as amarras que me prendiam ao pensamento conservador de minha família e do que me foi socialmente imposto. Eu me senti livre, pela primeira vez. Me senti capaz sem precisar pensar o que os homens vão pensar. É libertador escrever isso agora também, porque muitas vezes algumas meninas se dizem donas de si mas às vezes emprestam suas liberdades em troca de um namorado. Quão banal é o rapaz proibir a moça de sair com as amigas? Ou, como nos foi ensinado desde pequenas, evitar confusão por bobagens. Claro, a mulher deve ser a apaziguadora, a doce, a delicada.
    Hoje em dia eu até entendo o porquê minha mãe tanto insistia para eu evitar discutir tanto na escola, ou até mesmo em casa. Eu precisava entender qual era meu papel nesse teatro todo da modernidade. Eu nunca quis interpretá-lo. Nunca vou precisar, também. E espero que nenhuma de nós faça mais isso. Apenas para esclarecer, acho que a beleza do feminismo é justamente nos dar informação, a "chave" para libertar-nos das amarras que tanto querem nos colocar. Se você, mulher, acha legal se arrumar toda para se sentir bem e impressionar seu namorado, eu não vou te xingar e dizer que você está sendo submissa. Eu vou te abraçar e dizer que se é isso que te faz feliz, também me faz feliz. Entretanto, se você estiver se arrumando porque seu namorado disse que você está relapsa em relação ao seu visual e precisa melhorar, aí, na minha opinião, você está interpretando um papel que não quer, por achar que deve-lhe satisfações ou obediências.
    Eu não leio muitos livros sobre feminismo, apenas alguns textos soltos e artigos. Então, eu peço desculpas desde já se a minha visão está muito deturpada ou contaminada ainda. Não sei se vou mudar a minha perspectiva, mas para mim, feminismo é amor! Ser livre! E amar ser livre acima de tudo! Ser de ninguém, e não querer pertencer a ninguém. Só a si mesma. Eu não li artigos científicos para saber quão aliviante é quando sentimos alguém nos seguindo e vemos que é uma moça e não um rapaz, pronto para nos fazer mal. É um alívio quando uma moça senta ao nosso lado no ônibus e não algum homem mal encarado.
    Não se trata de ódio aos homens, mas de uma rede de proteção entre mulheres. Uma rede de proteção que eu fui conhecer esse ano, chamada "sororidade", e graças a essa rede, eu pude lembrar com delicadeza que nos momentos que eu mais precisei, quem esteve ao meu lado foi uma mulher. Seja ela minha mãe, minhas amigas, ou alguma colega de faculdade que volta comigo quando está caindo a noite. Vocês nunca me abandonaram, e nem vão. Estamos juntas!
    Obrigada a vocês, e vamos à luta.