Para quem gosta de dançar sozinho

Ela acordou bem cedo naquele dia,era dia de festa. As meninas da pequenina cidade,já bem cedo se arrumavam e queriam ser as mais lindas do lugar. Ela não era diferente,e nem queria ser.Aliás,ela queria ser mais uma na multidão mesmo,queria fazer o que todos faziam,e ser do modo que julgava ser certo,na época.
Ao longo do dia,atividades banais: Arrumar o quarto,lavar a louça,ler um livro,ajudar a mãe com o almoço... O horário da festa se aproximava. Ela então tomou um banho caprichado,escolheu com cuidado a roupa.Lambuzou o corpo de um hidratante com cheirinho doce, e penteou os cabelos com cuidado,para irem secando naturalmente. Abotoou com cuidado o sutiã,colocou a calcinha de renda branca,para não ficar muito aparente sob o fino tecido do vestido. E com toda a delicadeza que só uma menina deliciosamente poderia ser,foi se maquiar. Pareceu uma boneca. Depois se perfumou,e percebeu que já havia se atrasado trinta minutos. Só deu tempo de dar um beijo rápido na mãe,que elogiou o modelito,mas ela não pôde escutar pois já estava saindo pela porta,apressada.
Chegou à festa, e como não poderia deixar de ser,todas as atenções voltaram-se para ela. Linda com um vestido verde,que parecia ter-lhe escorrido dos olhos, e banhava a seda com toda a leveza. Dançou com muitos rapazes interessantes,trocara meia dúzia de palavras com cada,mas nada a ponto de fazê-la rir espontaneamente ou esquecer por um momento dos problemas.Era uma felicidade pragmática e calculada. Encantava-os e depois deixava-os sós. 
E aquele riso... E aquele perfume... E aquele vestido... Tão bonita! Tão bonita assim que vive num cárcere. Onde ela sabe que,poucos serão aqueles que terão coragem o suficiente de entrar,abrir a armadura, e conhecer a sua alma ao invés de elogiar o que está por fora. Tirou o vestido,lavou o rosto,soltou os cabelos - que caíram lindamente sobre os homens. Sentou no chão e ficou. O problema não era ter que dançar a noite toda com rapazes,e não se interessar por nenhum.Participar de assuntos chatos e desanimadores.
O problema não era esse. O problema era estar exatamente ali, caída no chão,sozinha. E por escolha própria. Não gostava muito dessas noites de solidão planejada,não gostava muito de ficar sozinha consigo mesma. Pois era ali que a briga começava.